segunda-feira, 28 de novembro de 2016

A vaidade - e como ela nos move

Vaidade é uma palavra que contém dois significados curiosos. 

Por um lado, ela exprime o desejo que temos de atrair a admiração de outras pessoas. E não se trata de sermos admirados somente pela beleza física, mas também pelos bens materiais que temos, pelos lugares em que vivemos, titulação acadêmica, dentre inúmeros outros.

Por outro lado, vaidade também é considerada a característica daquilo que é vazio, vão, ilusório. Coincidência? De jeito nenhum.

A vaidade é uma de nossas maiores jaulas. É um problema moral, social, econômico e até mesmo ambiental. Se fôssemos analisar exatamente o que é essencial na vida e o que fazemos apenas por vaidade, provavelmente constataríamos que mais de 90% do nosso tempo precioso é investido para buscar ou manter uma imagem melhorada daquilo que realmente somos. Ou seja, lutamos quase o tempo todo para sustentar uma ILUSÃO em torno de nós. Afinal, todos nós temos carência de admiração. 

Este texto foi criado por pura vaidade. Ele não é essencial para ninguém, e embora possa levar algo interessante para a vida de muitas pessoas, o objetivo principal dele é atrair algum tipo de admiração alheia (ainda que o autor não admita). 

Precisamos de vestimentas para cobrir e proteger o corpo, mas compramos muito mais do que necessitamos por pura vaidade. Precisamos de alimentos, mas saímos para comer fora em lugares lotados com comida de má qualidade e com baixos valores nutricionais por que somos vaidosos. Temos o instinto de procriar, mas procuramos pessoas com boa aparência para namorar, ou adotamos comportamentos que nos façam ser admirados como "pegadores" ou "pegáveis", tudo por pura vaidade. Nossa vaidade nos impele a fazer parte de diversos grupos segmentados que defendem determinadas ideias, para que sejamos vistos pelos outros e reconhecidos. Dentre esses grupos há os políticos, os religiosos, as reuniões de trabalho e de família, entre outros. Corremos loucamente atrás de titulações acadêmicas para que esses ilusórios títulos atestem que somos pessoas admiráveis. Fazemos academia, praticamos esporte e fazemos dieta, tudo por pura vaidade. Todos nós, que temos alguma rede social, somos vaidosos, independente do tipo de conteúdo que se posta. A vaidade nos motiva ao consumismo, pois carros, casas, eletrônicos e viagens luxuosas para lugares distantes preenchem o vazio em que nosso espírito se encontra. 

Ser reconhecido e admirado por algumas pessoas por aquilo que queremos parecer ser. Infelizmente, essa é a realidade que a maioria de nós construiu em torno de si. Não posso ser hipócrita ao ponto de querer dar algum tipo de lição de moral e recomendar que todos abandonem suas vaidades. Afinal, elas podem servir para o bem. Talvez se não fosse a vaidade não teriam existido grandes artistas, cientistas, engenheiros, médicos e uma série de outros profissionais. O mundo não teria tantas maldades, mas também seria um lugar desconfortável. Eis a ambiguidade da vaidade: talvez, se não fosse por ela, não levantaríamos da cama. Não haveria motivos para trabalhar tantas horas e/ou estudar tanto. Não haveriam dívidas, nem desejos de consumo. Ninguém tomaria nada de ninguém, não haveria tanta disputa ideológica nem tantas brigas sem sentido. Afinal, sempre queremos estar certos em qualquer tipo de discussão, e estar certo é pura vaidade. 

Tenho tentado lutar contra esse mal em minha vida. Fui escravo da vaidade por muito tempo. Vaidade de estar rodeado de pessoas, embora tão poucas fossem de fato pessoas que eu queria por perto. Vaidade de tirar boas notas e ser estudioso, sendo que a verdadeira professora é a vida e  nenhum dos meus certificados me garante algum tipo de superioridade diante de alguém. Vaidade de ser popular, que não leva a lugar nenhum. Vaidade de ser admirado a todo o custo, de tal modo que eu praticamente me prostituía para ser valorizado por alguém (e quão alto foi o custo por essas atitudes!). Vaidade de viajar para lugares distantes e tirar belas fotos, mas se sentir vazio e amargurado. 

Hoje em dia procuro valorizar o que não tinha valor: a família, os bons amigos, o namoro, as atividades físicas e intelectuais, viagens e confortos que tenho, tudo isso sem a necessidade de mostrar que disponho de tudo isso (mas as vezes a gente mostra sim). Mantenho a maior parte de minhas atividades, sonhos e planos praticamente em segredo. Evito discussões e exposições desnecessárias e não costumo debater posições ideológicas na internet. Fujo de qualquer situação que possa causar embate com outra pessoa. E, sempre que necessário, esvazio a mim mesmo, me diminuo, me humilho e assumo responsabilidades. Permito e aceito minhas fraquezas e não procuro esconder mais nada de mim mesmo. Procuro não viver em torno daquele 'eu' que quis construir para que os outros vissem, mas vivo em torno do 'eu' que sou. E, confesso, vivo nesse momento um maravilhoso caso de amor comigo mesmo. É muito difícil que algo me cause a angústia e a ansiedade que eu sentia antes, pois as necessidades se tornaram bem menores e mais leves. Vivo muito mais tranquilo, mas a vaidade ainda mora dentro de mim. Pretendo lutar por toda a vida para que ela não seja a minha razão de existir, procurando canalizá-la de modo que me motive a fazer coisas boas nesta vida. 

Se eu pudesse dar um único conselho sobre esse assunto, eu diria o seguinte: seja humilde. Humilhe-se. Mas isso é assunto para o próximo post...

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