segunda-feira, 19 de março de 2012

A "imbecilização" da sociedade - PARTE XIV : Ética e moral


Durante muitos e muitos séculos o ser humano utilizou-se de diversos métodos para manter a ordem social. Desde que nos conhecemos por SOCIEDADE existem códigos de conduta e comportamento moral instaurados gradativamente e passados de geração para geração. Esses códigos existem quase que por acaso e servem para regular e manter o equilíbrio da vida social, de modo que seja possível estabelecer normas, regras e comportamentos que visem o bem estar de todos. Acima da Moral, aquela que se estabelece e varia conforme a sociedade e se adapta com o decorrer dos tempos, existe uma ciência universal chamada Ética. Explicar o sentido dessa palavra é uma complicada tarefa, mas podemos entendê-la como um conjunto universal de conceitos, costumes e valores que precisam ser obedecidos por todos os seres humanos, independente de qual sociedade ou região do planeta em que vivam, independente de cor, raça, gênero ou credo. Por isso, cada código moral de determinada sociedade vai buscar eternamente chegar próximos da Ética.

A Ética tem um conceito tão puro e bom que é quase confundida com o Amor, e defini-la é uma tarefa tão árdua como definir o Amor. Seu significado em determinados momentos pode ser confundido com o ato de amar, já que engloba a defesa da vida e do bem estar universal, algo acessível somente através do amor. Da mesma forma, parece um bem inatingível por inteiro. Durante toda a nossa existência foram estabelecidas regras sociais para facilitar a convivência e estabelecer a igualdade. Ao mesmo tempo, vários métodos foram criados tendo em vista coibir determinadas pessoas cujo comportamento não era condizente com as leis estabelecidas. Já sabemos de escravos que lutavam em arenas, mulheres queimadas vivas, tortura e tantas outras ações derivadas de um julgamento de juízo que desde cedo aprendemos a fazer ao separar pessoas boas de pessoas ruins, considerando as boas aquelas que seguiam os costumes morais, que por sinal estão em eterna metamorfose procurando melhorar a cada dia.

A História mostra que a imposição do medo sempre foi a forma mais utilizada de manter o domínio. Os governantes não hesitavam em mandar e desmandar, e a moral é profundamente alterada a cada momento que esse cenário se modifica. Além da crueldade física, também existiu por muito tempo um domínio psicológico provocado especialmente pelas religiões. A própria Igreja Católica fez isso. Além das prisões com cela e paredes, o homem livre e "de bem" sentia-se preso a todo momento, uma prisão que sequer conseguia perceber.

Os dias contemporâneos e capitalistas, entretanto, souberam provocar um aprisionamento muito mais eficaz e sem precedentes, que funciona com praticamente toda a população e que mantém a "ordem" da maneira como os governantes desejam. As leis, que deveriam reger o sistema, são falhas, manipuláveis, complicadas e sempre deixam algum furo. Determinados comportamentos anti-éticos como beber dirigindo nunca conseguem ser coibidos e está sendo instaurado aos poucos a idéia de impunidade. Os presídios são lotados e não conseguem reconduzir cidadão algum a se tornar mais ético. Por consequência, o medo aterroriza e prende a população inteira. 
Mas a principal preocupação com relação ao aprisionamento se refere aos costumes que se estenderam por tantos anos com o objetivo de manter intactos diversos valores, que estão caindo. Por exemplo, até pouco tempo atrás as crianças pediam bênção aos pais antes de dormirem, demonstrando o respeito que tinham a eles. Os professores eram mais respeitados e faziam a diferença na vida de um aluno. Os finais de semana e as grandes festividades sempre lembravam as grandes reuniões de família e inesquecíveis confraternizações. Haviam cerimônias de casamento para representar uma união que realmente durava a vida toda, os homens e mulheres que se davam ao respeito eram quase a totalidade da população. Não havia preocupações a respeito de meio ambiente, trânsito pesado, aparência física, vestimentas, correria e estresse, não havia a fome voraz pelo consumo nem pessoas tão insatisfeitas com suas vidas. As relações com outros seres humanos eram muito mais puras, intensas e de respeito. Um amigo de verdade não era apenas alguém que se conhecia e se simpatizava, ia muito além disso. Não se dizia "eu te amo" com tanta frequência e sem sentido. Os animais eram membros da família, não havia desperdícios nem corte demasiado de árvores e matança de plantas. A água vinha de fontes e poços, não tinha gosto de cloro. Ainda era possível admirar um por de sol, um canto de pássaro e todas as outras belezas que a natureza sempre ofereceu. A música não vinha de potentes caixas de som, mas sim dos próprios instrumentos. Não haviam registros de tantos males, e para quase tudo havia uma solução natural, além da fé. E hoje?

Hoje convivemos com ameaças ambientais, correria, estresse, luta pelo status social, individualismo, valorização exacerbada do corpo e da aparência, pressões de todos os lados, obrigações de mais variadas formas. As famílias simplesmente deixaram de existir e passaram a ser um conjunto de seres que dorme no mesmo lugar de vez em quando. A TV em cada quarto impede que a família se una algum momento e dialogue decentemente. Um noticiário exige silêncio para que saibamos o que está acontecendo no mundo, quando na verdade sequer sabemos o que acontece dentro da própria casa. A Internet é capaz de conectar-nos com o mundo inteiro e dá acesso a todo o tipo de informação, mas é utilizada como passa-tempo, local de exibicionismo e tantas outras (f)utilidades. Temos "amigos" que nem sabem nosso nome, se aproximam por conveniência e desaparecem rapidamente, temos romances superficiais e promiscuidade. Nosso planeta está em risco, mas só se espera que os outros tomem atitude. Queremos saber das tragédias por que gostamos delas, não por que nos preocupamos. Nossas distrações envolvem estresse com algo que nunca nos diz respeito (como o futebol), bebidas alcoólicas e diversos outros meios que tenham como finalidade promover um fuga de si mesmos. E se precisamos fugir, é por que estamos cada vez mais PRESOS. Presos a um emprego que suga e estressa, presos a costumes mesquinhos, presos ao valor do dinheiro, presos à vaidade, presos ao orgulho, presos em amizades duvidosas e namoros fracassados, presos em sonhos meramente capitalistas, presos diante da televisão, dos vícios futebolísticos e religiosos, presos diante das redes sociais e dos preconceitos. Presos diante de uma única teoria, presos nos conceitos de certo e de errado, presos nas bardas do ego, presos no cansaço e na insônia, presos aos remédios e problemas de saúde física e psíquica. E o pior de tudo, presos diante da incapacidade e de falta de vontade de mudar e fazer as coisas acontecerem de um jeito diferente, afinal é muito mais fácil seguir o andar da carruagem. Por consequência, prendemos idéias, pensamentos e sentimentos, deixamos de viver momentos intensos por que somos controlados a todo o momento, e não são as leis que nos controlam, mas toda a ordem moral estabelecida. Acreditamos estar vivendo num momento de democracia, liberdade e felicidade, quando na verdade nunca estivemos tão presos e neuróticos, quando na verdade nos deixamos ser aprisionados voluntariamente.

Por fim, resta refletir: afinal, a Moral realmente está indo atrás de um ideal Ético? Ou está regredindo e fugindo desta cada vez mais? As reais intenções por trás de todos os códigos de conduta, leis, punições e costumes eram a de possibilitar a liberdade e a felicidade ou a de privar o ser humano desta e poder dominá-lo melhor? Terá o ser humano atingido sua melhor forma de dominação? Teremos todos nós chegado ao fundo do poço como espécie? Onde iremos parar? São questões diversas que tentam justificar algo injustificável: vivemos numa terra de livres, onde souberam direitinho a nos prender dentro de nossas próprias armadilhas e fraquezas.

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